sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Palavra, salve-me




Ia chegando ao consultório do analista...
– E aí, o que está te incomodando?
Pensei, recordei, refleti, nomeei, questionei em silêncio: – Angústia?! Mas tudo aquilo que senti, de formas tão diversas, toda aquela intensidade, a insuportabilidade, a sensação do mundo caindo sobre minha cabeça em pedaços, era "só" angústia?! Essa palavrinha tão banal que todos usam no cotidiano como usam um "oi" ou um "até logo"? Não pode ser...
– Doutor, o senhor tem lápis e papel aí?
– Sim.
– Então anota pra calcular certinho: pega a palavra "angústia", multiplica por cinco, eleva o resultado ao cubo. Anotou?
– Ok. Continue.
– Bom, agora põe fatorial e calcula por favor.
– Humn...
A testa do médico franziu, seu olho diminuiu, a pupila dilatou, a mão no queixo e o olhar massacrante sem piscar me empurrando pra parede com toda aquela força que só ''eles'' possuem... Isso sem olhar novamente pro papel, até que fez aquela postura de relaxamento, desfranziu a testa e saiu de seu ''transe''.
Ufa, esse cara é sádico? Pensei com meus botões... e então perguntei, já que ele nada disse.
– E aí, doutor? O que deu?
– Interessante! Bom, moça, pelos meus cálculos, risperidona 8mg.
Ui! Saravá! Nunca mais voltei lá.

Tania Montandon

Saiba mais sobre Tânia



2 comentários:

Anônimo disse...

Esta história bate com aquela frase:Se a sua vida é azeda como limão, aproveita e faz uma limonada e vai vivendo, digo bebendo. Um abraço.ACM

Unknown disse...

Texto gostoso de ler...Certamente, ao lê-lo, muitas pessoas irão se identificar com êle, com aquela sensação de "já passei por quase isto..." Bjs